4.7.05

É namoro ou amizade? -

Você está no meio de um evento qualquer, começa a conversar com alguém e surge uma inesperada confluência de idéias e uma estranha atração. No momento, você sabe que encontrou alguém especial e que combina com você. Mas como saber até onde levar esse encontro “casual”?

O normal é marcar um segundo encontro. Mas pode ser que a sensação tenha vindo só de um dos lados. Neste caso, acredito que, no máximo, vocês serão amigos. Mas, e se os dois sentirem a mesma coisa? Aí é que surge o problema.

Existem pessoas que combinam em alguns pontos e em outros, não. Pode-se ter assunto por horas, ter uma identificação com atividades em comum, mas no lado íntimo não dar certo. E pode ser ao inverso: um simples toque fazer pegar fogo, mas não se ter nada para conversar ou aprender juntos. De qualquer forma, acredito que só o tempo seja capaz de mostrar o que a relação pode render.

Conhecer o outro, saber como ele age, quais são seus costumes e manias, é que vai mostrar se a relação pode virar um namoro ou ser só uma amizade. Tem quem fale: “se esforça, ignora essa mania dele!”. Desculpe-me, mas eu discordo. Se há esforço, virem amigos. Uma relação de casal só pode dar certo se não houver esforço, se tudo fluir naturalmente.

Luis Carlos Restrepo, em seu livro “O Direito à ternura”, coloca que todo relacionamento se baseia na dependência e na singularidade. Explicando melhor: ele diz que é impossível existir essa tão proclamada independência, pois estar ao lado de alguém, confiar e dividir é, essencialmente, depender; mas, ao mesmo tempo, ele explica a necessidade de se respeitar e manter a singularidade do outro, afinal, foi por ele ser quem ele é, que houve o desejo inicial. Se essas duas coisas, a dependência e a individualidade, conseguirem coexistir, haverá ternura e um relacionamento saudável.

A partir disso, podemos imaginar a dificuldade de se manter um relacionamento estável. Muitos já nascem destinados a serem apenas amizade e outros a irem mais a fundo, já que nem todas as pessoas conseguem depender da outra e não tentar modificá-la ao mesmo tempo.

Saindo do conceitual e voltando à prática, é preciso falar da “química”. Se o beijo não combina, se o tesão não rola, por que insistir e tentar fazer de uma bela amizade um desastroso relacionamento? E se só existe isso, porque tentar fazer de um caso um namoro? Para haver um namoro gostoso, com trocas e prazeres, é preciso haver a amizade e o tesão ao mesmo tempo.

Acho que basta que sejamos sinceros conosco mesmos e percebamos o que o nosso coração nos diz para saber até onde um relacionamento pode e deve ir. Seguindo o coração e havendo respeito, haverá felicidade.


Bibliografia:
Restrepo, Luis Carlos. O Direito à ternura. Petrópolis, RJ – Ed. Vozes, 1998.