19.6.06

Estupro consentido -

Quantas de nós, mulheres, passamos parte de nossas vidas sendo estupradas, violentadas, e aceitando este fato devido à necessidade que temos de sermos amadas e aceitas? Quando uma adolescente consente em ter uma relação sexual, dificilmente sabe seu papel nesta “transa”. Os conceitos de respeito, amor, cuidado, ainda estão muito longe da ingenuidade do casal, da falta de experiência e de conhecimento. O ato sexual é algo mecanizado, onde o homem tem prazer e a mulher, infelizmente, se torna um simples instrumento deste prazer.

A falsa independência da mulher atual fez com que quiséssemos ter o mesmo controle, a mesma “liberdade”, que os homens historicamente possuíam. Mas a que custo? Passamos a dizer o que queríamos e a interpretar papéis que não eram nossos. Passamos a fazer sexo com a mesma freqüência e naturalidade de quem, há menos de uma década, dava um beijo na boca. Perdeu-se a intimidade, a profundidade, o sentimento, o carinho.

Fazer amor é mais do que abrir as pernas, ser penetrada e, menos de cinco minutos depois, ver o parceiro caindo exausto ao seu lado satisfeito. Pesado isso? Triste realidade.

Fazer amor é sentir o outro; é tocar, acariciar, suspirar; é passar a mão no rosto, nos cabelos, no peito; é respirar juntos, ofegar juntos; é querer o prazer do outro, assim como o outro deseja o seu prazer; é encostar os corpos, sentir cada movimento, perceber cada toque; é esquecer do resto do mundo; é abrir os olhos e enxergar a pessoa mais linda de todas; é fechar os olhos e se sentir a pessoa mais amada de todas.

No ato sexual, não adianta querer dizer que a mulher é igual ao homem. Nós precisamos de muito mais carinho e estímulos do que nossos opostos, que com a excitação de um único órgão se deleitam de prazer. Nós precisamos de beijos, em vários outros lugares além da boca. Nós precisamos de uma mão forte, mas que não seja rude. Nós precisamos estar completamente envolvidas, com nosso corpo e nossa mente “anestesiados”. Nós precisamos chegar perto do ápice do prazer bem antes que vocês, homens, comecem a ter prazer – nosso tempo é outro!

Mas quantas e quantas vezes achávamos que estávamos fazendo amor com nossos namorados e eles se comportavam como se tivessem uma boneca de plástico na sua frente. Não era assim, mulheres? Meninos só aprendem o básico. Demora anos para um homem perceber que há um outro ser humano na sua frente, tão sedento de prazer quanto ele. Enquanto isso, nós sofremos. Nós nos sentimos, sim, violentadas. Às vezes o outro até tenta nos dar prazer, mas nem nós, nem ele, sabemos como.

A violência não é física. A violência é emocional. A cada sim que damos, desejosas de que o outro, “dessa vez”, nos dê o que tanto imploramos, nos violentamos de novo. E se dizemos não? Daí nosso mundinho desaba, pois o homem que amamos não vai mais nos amar. Que grande bobagem! Mas é assim que pensamos.

E será que tomar o controle da situação resolve? Não. Seremos nós que estaremos provocando o nosso prazer e, ainda, estaremos dando prazer para o outro. Mais uma vez nos sentiremos usadas. Talvez não no momento, mas quando “cair a ficha”, sentiremos uma raiva enorme. Não é? Só que a raiva do outro é uma raiva projetada. Nós sentimos raiva é de nós mesmas, porque novamente aceitamos estar numa situação em que não há troca.

Fazer amor é compartilhar um momento extremamente íntimo e delicado. Fazer amor é dar amor.

São poucos os homens que se preocupam em compreender o corpo de uma mulher, que querem aprender onde e como lhe dar prazer. E cada mulher é diferente da outra, pode ter certeza! Por isso exige amor, entrega, carinho, respeito e tempo.

Só existe felicidade quando os dois estão sintonizados, sem preocupações, sem neuras, sem defesas. Só existe felicidade quando não há violência, quando os dois saem daquele momento tão especial se sentindo plenos, satisfeitos, completos, amados.

Sexo casual? Hormônios, prazer momentâneo e dor posterior. Sexo com amor? Carinho, prazer profundo e felicidade duradoura. Pelo menos para nós, mulheres...