22.10.05

Começar de novo... -

Nossa vida acontece em ciclos. Temos altos e baixos, solidão e paixão, alegrias e tristezas, empregos e desemprego, estudos e crescimento pessoal. Em alguns momentos, parece que estamos começando do zero: mudamos de trabalho, de amigos, de companheiro, até de cidade. E por vezes, esses fatores vêm todos juntos. E como é difícil recomeçar e só contar conosco mesmos.

A gente fraqueja, chora, quer desistir. A gente pede ajuda, reza, grita. A gente sai do lugar, faz diferente, dá novos passos. E como a gente aprende!

Ivan Lins escreveu uma música que traduz de um jeito impressionante o sentimento daqueles que têm que recomeçar. Vou transcrever a primeira parte da música, pois sei que muitos se sentem exatamente assim e precisam de muito estímulo para conseguir acordar a cada novo dia. “Começar de novo e contar comigo; vai valer a pena ter amanhecido; ter me rebelado, ter me debatido; ter me machucado, ter sobrevivido; ter virado a mesa, ter me conhecido; ter virado o barco, ter me socorrido (...)”.

Cada novo ciclo da vida exige de nós mudanças. Exige compreender o que passou, aceitar as perdas, conhecer nossas reais necessidades, amadurecer. Muitas vezes precisamos de um tempo parados para refletir e ter condições físicas e mentais para começar uma vida nova - precisamos estar prontos para isso.

Vale chorar; vale querer desistir; vale caluniar o outro; vale se isolar do mundo; vale “chutar o balde”. Mas só vale na hora, naquele momento em que a bomba explode e o nosso mundinho desaba. Depois, não vale mais. Depois, vale lutar; vale querer uma vida melhor; vale perdoar; vale acreditar que a força para recomeçar está dentro de nós mesmos.

É... a força para recomeçar está dentro de nós! Precisamos arrumar uma maneira de encontrá-la e seguir em frente.

Voltemos às músicas. Maria Rita regravou uma canção de Milton Nascimento. Outra música profunda, que diz mais nas entrelinhas do que podemos ouvir. Parte dela diz: “e assim, chegar e partir são só dois lados da mesma viagem. O trem que chega é o mesmo trem da partida. A hora do encontro é também despedida. A plataforma dessa estação é a vida (...)”.

E esses são os recomeços: fins e inícios, encontros e desencontros. Para chegarmos a algum lugar, precisamos sair de onde estávamos. Muitas coisas que parecem essenciais hoje, representarão nada amanhã. Ou você nunca olhou para trás e se achou bobo por dar tanto valor a algo? Acho que isso diz tudo. A felicidade exige que abramos mão de algumas coisas. Muitas vezes dói, muitas vezes queremos desistir. Mas saber recomeçar é saber que a felicidade se constrói a cada minuto, a cada reencontro conosco mesmos, a cada novo começo.

15.10.05

Ai! Que ódio! -

Um dos piores sentimentos que existem é a raiva. Quando nos sentimos irados despejamos uma carga gigantesca de hormônios no nosso organismo, que nos deixa tensos, com os batimentos cardíacos acelerados, pressão sanguínea aumentada (literalmente a conhecida expressão: “o sangue sobe pra cabeça!”), além de inibir o lado racional do cérebro que nos permite pensar antes de agir.

Mas lidar com a raiva é um processo de paciência e perseverança. Começa em conseguir perceber a posição, os argumentos e as razões do outro. Compreendendo o outro, por mais que ele não tenha razão, paramos para pensar e conseguimos diminuir a intensidade do sentimento.

Depois, temos que aprender – sim! – a contar até dez, vinte, trinta, cem, se preciso. Respirar fundo e nos acalmarmos, antes de dizer algo ou reagir. Isso evita desgastes desnecessários de energia, brigas, discussões, mal entendidos. Dar tempo para a dosagem de hormônios não subir, ou mesmo diminuir, nos dá condições de responder de forma mais racional e moderada.

A raiva não nos ajuda a mudar o modo de pensar do outro, não nos ajuda a “dar uma lição” em ninguém, não permite que argumentemos com lucidez, não funciona nem como vingança. A raiva só atinge a nós mesmos. Só nós saímos do sério, prejudicamos nosso organismo, ficamos magoados. Só nós perdemos.

Uma das parábolas de Jesus, que já virou estória infantil, serve bem como ilustração. Vou contá-la, resumidamente, com minhas palavras: “quando um menino chegou em casa com muita raiva de um amigo da escola e disse para seu pai o quanto estava com ódio, o pai lhe deu um saco de carvão e pediu que atirasse num pano estendido no quintal. Após acabar com todo o carvão, o pai perguntou ao filho se estava mais aliviado. Ele respondeu que sim. Então, o pai pediu que olhasse para o pano à sua frente. O menino notou que não havia acertado todas as pedras no pano e que ele estava apenas um pouco manchado. Depois olhou para si mesmo e percebeu que estava inteiramente enegrecido pelos restos que nele caíam e pela fuligem que se espalhou por todo o seu corpo”. Acho que não preciso explicar a moral da história.

Pensamentos negativos só atraem energias negativas. Raiva só resulta em ressentimento e mágoas. Já o perdão e a compreensão têm como efeito o entendimento, o amor, o crescimento mútuo.

Como é bom, no momento em que a raiva começa a surgir, conseguir olhar para o outro e perceber que ele ainda não consegue agir diferente, ou ver que existem outras verdades que não a dele. Como é bom, nesse momento, saber calar e ouvir. Como é bom poder compreender e aceitar. Como é bom, após o outro desabafar, conseguir, com o coração cheio de amor, dizer: “eu te entendo”.

Existe melhor caminho para a felicidade?

9.10.05

Quem sou eu? -

Você sabe quem é você? Mesmo? Você sabe dizer exatamente do que gosta e do que não gosta? Como reage diante de uma situação difícil? Como é diante de muitas pessoas e se muda quando está perto de amigos íntimos? Sabe perceber quando é aceito e suas palavras desejadas? Conhece seus defeitos e suas qualidades?

Muitas perguntas, não? Mas necessárias. Necessárias ao auto-conhecimento. Saber o que somos, do que gostamos, como agimos, como somos vistos e até se somos diferentes de acordo com cada situação é essencial para sabermos lidar com o mundo, com as pessoas que convivemos e sermos felizes.

Uma frase muito conhecida diz “ame-se primeiro para depois amar, pois quem não tem algo não o pode dar”. Eu concordo. E também acho que ninguém ama quem não conhece. Então se não nos conhecemos, como podemos nos amar?

Conhecer-se começa por sabermos nossos limites. Compreender o que é válido em nossas vidas e o que não é. Por exemplo: você fuma? Saber se gosta do cheiro e do gosto do cigarro pode dizer se essa situação vai fazer parte do seu dia-a-dia, ou não. A mesma coisa para roupas, jóias, perfume, comida, bebida – você sabe exatamente do que gosta ou vai atrás de modismos para ser aceito? Será que você não muda seus hábitos, por exemplo, em função do hábito do parceiro?

Nós mudamos muito de acordo com as situações. Claro que não podemos ser brincalhões o tempo todo, ou sérios o tempo todo. Há momento para tudo. Mas mudar de opinião e de personalidade como quem muda de roupa é um grande problema.

Comece fazendo uma lista do que gosta e do que não gosta. Comece a perceber-se nas situações. Perceba no que você é diferente dos outros. Descubra o que gosta em você mesmo e o que pode fazer melhor. Entenda suas limitações e expanda suas qualidades. Aprenda a se aceitar como você é, mas tendo consciência de que sempre podemos mudar para melhor.

Mas o que é ser “melhor”? Aí está o auto-conhecimento. Sermos melhores hoje do que éramos ontem. Compararmo-nos a nós mesmos e não aos outros. Entendeu? Vou explicar melhor. As mulheres se acham magras ou gordas sempre se comparando a outras mulheres. Na escola, nos achamos bons ou maus alunos nos comparando aos outros alunos. Nos achamos pessoas benevolentes ou egoístas comparando nossos gestos aos dos outros.

E se mudarmos a perspectiva? Compare-se com você mesmo. Ontem você estava mais magro, menos inteligente, ou menos caridoso? Olhando para você mesmo há um ano, você era alguém melhor ou pior? Mas lembre-se que só vale a SUA PRÓPRIA concepção de “melhor” ou “pior”.

Saber quem é você é compreender o seu papel no mundo; é aceitar-se; é respeitar-se; é saber o que o faz mal e saber dizer não a isso; é conhecer suas aptidões; é saber quais são os seus sonhos; é saber e valorizar o que se tem de bom e especial na vida; é se olhar no espelho e conseguir dizer com o coração tranqüilo “EU ME AMO”.

Quando você se conhece e se ama, consegue viver com tranqüilidade, pois sabe o que quer, onde quer chegar e o que pode fazer para chegar lá. Quando você se conhece e se ama, pode amar e ser amado. Quando você se conhece e se ama, pode descobrir mais facilmente o caminho para a felicidade.