10.2.05

Assumindo o comando -

Sempre ouço falar que não podemos deixar o carro de nossas vidas desgovernado, que temos que assumir o volante e conduzir nossos destinos, andando na direção dos nossos sonhos. Mas você já pensou que a vida não é nosso carro? A vida é a estrada e nós somos o carro. Se nós resolvermos parar, a vida continua. Se nós acelerarmos demais, podemos perder várias coisas pelo caminho.

Nós temos o comando daquilo que fazemos, sim. Mas nem tudo na vida vai mudar de acordo com o que queremos. A vida tem seus cruzamentos, pontos de parada, restaurantes, hotéis, cidades, vilarejos. Tudo tem o seu lugar. Podemos modificar algumas coisas, construir outras. Mas, em boa parte do caminho, só temos que percorrer essa estrada.

E a cada obstáculo em que nos detemos mais do devemos, podemos ficar atrasados em relação à vida. Então teremos que correr para alcançá-la. É como se houvesse um ponto certo para encontrarmos determinada pessoa, ou começar aquele curso, ou conseguir um tal trabalho. Mas nós temos que fazer a nossa parte, planejar nosso percurso e seguir decididos e firmes até nossa meta.

Só que alguns eventos acabam não dependendo da gente. Os outros também estão conduzindo seus próprios carros e modificando não só o deles, mas o percurso de todos. Você já pensou que ao construir uma ponte, ou abrir uma nova estrada, você não o estará fazendo só pra si? Todos os que vierem depois de você usarão aquilo que você criou. A atitude de uma pessoa interfere na vida de todos a sua volta.

Talvez por isso, dependamos um pouco das decisões dos outros. No trânsito, se alguém pára no amarelo, ainda tendo tempo pra passar, pode causar tanto uma batida, um atraso, ou quem sabe nos fazer um bem e nos proporcionar o tempo que precisávamos para nos acalmarmos e evitarmos um acidente maior logo à frente.

Eu acredito que não exista acaso. Acredito que tudo acontece como deveria. Até a pior experiência vem nos ensinar algo. Mas temos que aprender a seguir nossa intuição, para não andar devagar demais, nem rápido demais. É aquela voz que às vezes parece nos dizer para virar à esquerda ou à direita; uma voz que nos diz: "calma. Agora é hora de parar e ouvir seu coração."; ou que diz: "agora você tem que tirar a bunda da cadeira e ir a luta". Acho que nossa intuição nos ajuda muito no nosso caminhar. Ouvir nossos desejos mais íntimos, saber aquilo que vai realmente nos fazer feliz, é uma forma de não ter dúvidas e escolher sem medos o melhor trajeto.

Vamos pegar no volante e dirigir nossas vidas, sim. Mas vamos fazê-lo de forma equilibrada, tranqüila e segura. Sair por aí sem saber pra onde ir não resolve. Só vamos gastar combustível. E digo que o combustível da vida é ainda mais caro do que a gasolina. É nosso tempo, nossa energia, nossa vitalidade, nossos sentimentos, nossos dons. Não podemos jogar tudo isso fora. Mas também não podemos deixar o carro na garagem enquanto a vida passa. Temos que arriscar. Temos que acelerar em busca dos nossos objetivos.

Se demorarmos demais, talvez alguém pegue a nossa vaga, ou fiquemos presos em algum congestionamento. Faça sol ou chuva, a vida continua. Vamos ligar o limpador, acender os faróis e ir adiante. E acredito que haja sempre um lugar certo pra nós, um caminho a nossa espera. Só precisamos dirigir até lá. E não esqueçamos de que o percurso é tão importante quanto a chegada. Precisamos dirigir bem a cada curva, a cada lombada, a cada reta, a cada viaduto. Precisamos ser felizes do começo ao fim do nosso caminho.

Um comentário:

Bonassoli disse...

Sábias palavras.
Esta é uma crônica das antigas, mas parece que previas o futuro; agora, passado recente.