5.6.05

Será que é suficiente? -

Quanto medo e quanta indiferença nos fazem perder o sentido de nossas próprias existências? Ninguém deve implorar por amor, mas muitos de nós imploramos – só não me pergunte o porquê. Quando percebemos que estamos implorando para ser amados, percebemos que as coisas são diferentes do que antes supúnhamos; que ninguém olha pra você, ninguém nota você como você imaginava.

Num mundo de estranhos, cada sorriso, cada troca de olhares, são sinais de humanidade, de uma humanidade que percebe o outro, mas que também o mantém distante. O consumismo, a modernidade, já tão falados e debatidos, ainda não conseguiram suplantar a simpatia. Perceber a existência de um outro é também perceber-se como membro de uma teia de relações necessária e indestrutível.

Mas valorizar tanto a opinião e o julgamento do outro é um problema. Muitos brincam “Não é ele que paga minhas contas, ou lava minhas cuecas”, mas é ele que me percebe, que me admira, que me considera, que me contrata, que me tem por amigo, que me ama...

Pensar o amor é pensar em respeito, troca, mudança de ponto de vista. Pensar o amor é, sim, pensar em abdicar, ceder. Mas até que ponto se deve ceder?

Caminhamos nas ruas e percebemos olhares de atração, de aprovação, de rejeição, de interrogação. Caminhamos e percebemos que vivemos e funcionamos em função dessa sociedade falsa e inescrupulosa. Vivemos com medo de não ser o suficiente. O suficiente pra quê? Ou o suficiente pra quem? O suficiente pro trabalho, pro amigo, pro vizinho, pro chefe, pra família, pro namorado, pro mundo.

Fica difícil assim, não?

Percebo que devemos e só podemos ser suficiente para nós mesmos. Mas como saber o que é ser suficiente pra si mesmo? Acho que é ser, fazer, agir, olhar, degustar, cheirar, dar, somente o que lhe faça bem. Somente aquilo que o seu coração aceite sem qualquer contrariedade ou rejeição. Somente aquilo que não lhe dê medo. Somente aquilo que lhe deixe, de alguma forma, feliz.

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